sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Carta ao meu amado Miguel

 Miguel,


Como já amo ser sua mãe, meu pequeno. Já já você estará aqui conosco. A primeira coisa que tenho feito todos os dias ao acordar é pensar em você. Espero que daí onde está consiga sentir o amor que tenho por você. Miguel, seu pai já te ama tanto também. Ele é lindo. Irá conhecê-lo em breve. Quando você chegar, quero te mostrar coisas lindas. Te mostrar as flores nascendo, os pássaros cantando e o mar. Mas um lugar que a sua mãe ama muito é a Chapada. Lá tem trilhas meu filho, que nos levam para lindas cachoeiras. Filho, sua mãe esses dias andou triste por aqui e pensando coisas de adulto que nos deixam mais agitados e se isso te agitou me perdoe meu filho. Não quero que as coisas que são minhas passem para você, ainda tão pequeno. Devolve para mim, meu amor, tudo que não for seu. Eu sou forte, sou capaz de carregar tudo o que é meu. A você cabe agora apenas se alimentar e se nutrir, para crescer ao seu tempo. Ficar forte e saudável e se preparar para chegar aqui na sua hora. Vai ser tão lindo meu filho, poder te apresentar as coisas mais lindas desse mundo e ver o brilho nos seus olhos descobrindo por si mesmo os seus próprios tesouros! Você será o primeiro a chegar, mas a mamãe quer ter mais filhos ainda e você terá irmãos para poder contar com eles. A casa já está enfeitada para o natal, uma festa que você amará conhecer, onde a família se reúne e saboreamos juntos muita comida gostosa, celebrando a chega de Jesus Cristo, o semeador de amor na terra. Filho meu, filho meu, até breve!


Com amor,


Mamãe






quinta-feira, 16 de abril de 2020

Um mundo novo

Não, nada será como antes. Sinto que após esses dias de quarentena ganhei um novo mundo. Depois de me manter privada de convivência, vivendo a elaboração sobre a pandemia, agora começo aos poucos a reassumir o lugar no mundo, retomar a "rotina". Hoje não consegui dormir e já que "vi o dia amanhecer", aproveitei para ver mesmo o dia amanhecer. E me perguntei, porque não fiz isso mais vezes na vida? É um espetáculo! Os pássaros cantando tão alegres. E a gente deixa isso passar e perde essa maravilha que a natureza manda pra gente de graça todos os dias! Resolvi então ir à praia, e no caminho mais espetáculos...canarinhos na rua, revoada de piriquitos, um gato super dengoso vagando pelas ruas e me deu bom dia. Assistir um periquito se deliciar com as flores da amendoeira. E chegar à praia! Um senhor passeava com seu cão (sem máscaras) e recebi um bom dia tão lindo! E o mar, outro espetáculo. O sol refletia nas águas. Um grupo de adolescentes, tão leves, acordava cedo para surfar. E me pareceram tão mágicos! Enquanto adultos usavam máscaras com medo de doença, eles estavam ali puros, alegres, inocentes. Sem dúvida, o mundo deles não estava em pandemia. A grama não era a mesma. O mar estava mais bonito. Chegada a noite, saí para caminhar. E a caminhada não era a mesma. Uma felicidade encheu meu peito. Senti-me mais viva do que nunca. Estava inteira. Plena. Agradecida pela vida. Vi muitos dos meus com máscaras, e nessa hora, deles me entristecia, mas o que me restava era continuar caminhando. Já retornando, resolvi sentar numa praça. E pasmem, essa praça também não era a mesma! Nunca havia olhado para aquela árvore, que me pareceu uma deusa. Senti amor pela praça e por tudo o que havia nela. Fiquei lá por um bom tempo. E esses são apenas alguns poucos detalhes do mundo novo que percebi. Se eu fosse descrever quanta novidade, esse texto seria um livro. Sim, eis um novo mundo. Pode ser que ainda velho para muitos, mas para mim, que já amava essa vida, ganhei algo sem preço e sem palavras suficientes para expressar. Ganhei Deus, ganhei a capacidade de ver. E a palavra é Gratidão. Não existe outra. O vírus vai passar. Mas o mundo novo, ou novo para mim, esse permanecerá. 

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O que nos tornamos?

Seres frios, materialistas, superficiais, racionais. Estamos carentes de água e de fogo. Onde estão os amores quentes e verdadeiros? Onde estão os abraços, trocados por emoticons de rede social? Seres ocos. Seres casca. Emocionalmente frágeis. Rasos. O momento pede sentimento. O momento pede tesão e paixão. Pede calor. Será que conseguiremos? 

domingo, 12 de abril de 2020

O interfone tocou

Durante muito tempo esperei por uma bozina da moto, uma mensagem, um telefonema ou o interfone tocar. Esperei parabéns no dia de meu aniversário. Esperei um convite para ir jantar. Esperei que me fosse oferecida a mão, na hora de caminhar. Esperei a presença na minha apresentação de dança. Esperei um abraço, um carinho, um colo. Esperei, enfim, sinais de amor que viessem do outro e de fora. E de tanto esperar, a vida seguiu. Não deixei de comer, de trabalhar, de fazer curas e arte. Meu cabelo cresceu. Vi uma pandemia acontecer. Queimei memórias. Meditei. Dancei. Chorei. E um dia o interfone finalmente  tocou: era eu mesma, me dizendo que me amava e que cheguei para ficar. E depois desse dia, não mais esperei por nada nem ninguém. Afinal, tudo que eu precisava ter, já estava a me saldar.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Um novo mundo

Hoje precisei ir até a praia, alimentar o corpo e a alma com brisa, céu azul, coqueiros e mar. Aliviar um aperto no peito, essa dor de ver o mundo como está. Fui chorar com as ondas, conversar com Iemanjá. E foi diferente estar ali. O mar me deu um colo bom. A maré estava baixa e tinham várias pocinhas d'água. Deitei-me em uma delas, recostei as costas nas pedras. E fiquei, aconchegada naquela poltrona especial. Respirei fundo, tranquila. Brinquei com a areia e com as algas. Hoje tomei pela primeira vez na vida, um verdadeiro banho de mar. Deixei que as águas do mar curassem o meu corpo, sem hora para voltar. Senti-me una com o todo. Uma integração muito bonita. Lá, nos braços de Iemanjá, não senti medo, nem raiva, nem angústia. Cantei para o mar. Contemplei as pedras, peixes e pássaros. Tive vontade de gritar para os que estavam sofrendo, que existe um outro mundo aqui. Um mundo lindo...onde as pessoas se olham nos olhos e dão bom dia e a natureza nos ama. 

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Meu povo

Hoje senti saudade de meu povo. Os que sentam em roda, olham nos olhos, comem com as mãos e cantam para a lua. Senti falta de uma tribo que não maltrata a natureza, que sabe que todos somos um. Que enfeitam a pele sem cosméticos agressivos. Que tomam banho de rio e respiram paz. Que tocam instrumentos e que só fazem barulho para espantar maus espíritos e trazer harmonia e a cura. Meu povo da água, do fogo, da terra e do ar. 

Quantos ainda precisam morrer, para que a humanidade possa despertar?

Uma visão espiritual da vida nos ensina a compreender que tudo obedece a um ritmo, ciclo e leis universais. É tão óbvio que uma pandemia que provoca a morte de seres humanos é um clamor da natureza para que todos os seres humanos simplesmente parem e vivam um processo de luto. Mas somos crianças, queremos fazer de conta que tudo vai bem e que os brinquedos com os quais estávamos brincando antes da pandemia são realmente "coisa séria"! Quantos ainda precisam morrer? Como não viver esse luto? Como continuar se apegando a coisas tão insignificantes, quando Deus está comandando essa peça e querendo que todos entendam que existe outro mundo a ser visto e vivido agora? Um mundo para além do carro novo, do dinheiro no bolso e das pessoas que você consegue manipular e controlar. Enquanto uns continuam tentando manter o controle de tudo, eu continuo vivendo cada dia...entregue ao que tiver de ser. Dando muito mais valor ao vôo de um pássaro no final da tarde, ao sorriso de uma criança, a uma semente que desabrocha, do que a todas essas justificativas e invenções humanas de gente adulta, séria e comprometida que não aceita parar ou perder. Mas tenho absoluta fé em Deus, de que vamos virar juntos esse jogo e fazer essa humanidade despertar.